Estratégica de Leitura da Pintura “Comerciantes de Pele Descendo o Missouri”
Tomando como texto não verbal a obra do
pintor norte americano George Caleb Bingham (1811-1879) intitulada Comerciantes
de Pele Descendo o Missouri (Fur Traders
Descending the Missouri) (1845), examinemos a tela no nível temático do
plano do conteúdo, articulando-o ao plano da expressão.
Começaremos pela tentativa de
contextualizar a obra que apresenta um belo conteúdo de valorização cultural e,
numa segunda análise, lúdica.
O Rio Missouri, o maior dos Estados
Unidos, é afluente do Rio Mississipi, localizado no centro dos Estados Unidos. Este
foi uma barreira para a conquista do Oeste americano, tal aquisição é
representada pelo arco Gateway Arch,
em St. Louis, Missouri. Construído como um monumento à Expansão para o Oeste, o
arco representa o espírito pioneiro dos homens e mulheres que venceram o Oeste
atravessando o Rio Mississipi.
A cidade de Louisiana (vizinha do que é
hoje o estado de Missouri) ocupava a região do lado oeste do Rio Mississipi, o
porto de Nova Orleans (New Orleans)
que ficava próximo a sua foz era indispensável para a economia norte-americana.
Desta forma os EUA, viram que a posse daquela região por Napoleão, tendo em
vista o seu desejo expansionista, seria “uma ameaça aos direitos de comércio e
à segurança de todo o interior do país”.
Assim, os EUA fizeram questão da
aquisição daquelas terras e acabaram comprando-as da França (debilitada pelas
guerras napoleônicas na Europa), aquisição concluída 1803, pela quantia de 15
milhões de dólares. Foram incorporados então ao território estadunidense mais
2.600.000 quilômetros quadrados de terra, que dobrou a extensão territorial do
país.
De acordo com informações obtidas no
site do Museu de Arte Metropolitana
de Nova Iorque (Metropolitan Museum of
Art), George Caleb Bingham havia primeiramente intitulado a obra como “Comerciante
Francês – Filho Mestiço” (French-Trader—Half
Breed Son) enfatizando o exotismo inerente nos personagens. Contudo, em sua
primeira exibição na União Americana de Artes em Nova Iorque (American Art-Union in New York) os
responsáveis pela mostra decidiram readaptar o nome para o Comerciantes de Pele
Descendo o Missouri (Fur Traders
Descending the Missouri).
A pintura apresenta paisagem, um animal
e um garoto de aparência mestiça apoiado em uma caixa, e um senhor com mais
idade e de chapéu. As cores das roupas são vivas, assim como do céu. Há uma horizontalidade
na composição da imagem retratada pelo barco, tal linearidade soma-se ao clima
da paisagem com plantas e o céu quase dourado. Examinaremos a obra da esquerda
para a direita. Vemos um barco descendo o rio calmo, com um filhote de urso
amarrado à esquerda, um garoto exótico e um homem de chapéu. Ao meio podemos
ainda notar plantas, uma pedra na água, a caixa, dando a sensação de equilíbrio
da embarcação e do conjunto, equilíbrio este levemente deslocado à direita do
observador.
Nessa pintura que vem do neoclassicismo,
percebemos influência do classicismo. O plano de expressão no estilo linear,
feito por meio de linhas com clareza na disposição dos elementos e também vasta
presença de componentes descontínuos no pano de fundo, confirmam a semelhança
de estilo entre os movimentos artísticos. A iluminação está presente nas roupas
dos dois homens, na névoa, no reflexo do filhote de urso na água. Podemos
inferir que a sombra do animal na água dá balanço ao peso do barco e um tom de
mistério primitivo que pode remeter-nos às crenças místicas típicas da cultura
americana, herdadas da colonização inglesa e francesa. Antagonicamente, podemos
ainda inferir que o filhote de urso preso remete aos impulsos selvagens
retidos, e sua autoimagem refletida, ou a uma renda para os comerciantes de
pele. Nele incide a maior parte da claridade.
Observemos a sucessão linear dos
personagens no sentido contra a correnteza: do animal para o garoto, e então para
o homem. Encontramos uma oposição representada por um traço reto que vai progressivamente
da irracionalidade para a civilização, numa atmosfera de tranquilidade com um
toque até idílico pela vastidão do espaço aberto com uma névoa levemente
presente de tons amarelados, remetendo-nos à luz do Sol, que a todos aquece.
Ainda há um detalhe que pode ver notado
quando se olha o quadro de longe, as nuvens formam uma imagem que parece se
encaixar como dedos de duas garras, mas que contrariamente, parecem afiadas e perigosas.
Embora haja a presença da dicotomia
racional versus irracional, civilizado em oposição ao selvagem, temos um
ambiente aconchegante, benevolente, de harmonia com a natureza, que pode
representar os Estados Unidos como um país de grandes dimensões territoriais
que contraiu estrangeiros com hospitalidade.
Referências Bibliográficas:
Textual:
JANSON, H.
W. History of Art. 4 ed. Nova
Iorque: Prentice Hall, Inc., 1991. p. 648.
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