Dieta Paleolítica
Ela defende
um modelo de alimentação baseado na dieta dos seres humanos pré-históricos —
sendo que a linha low carb (ou seja, com baixo teor de carboidrato) é a que vem
tendo mais sucesso, e justamente entre atletas. Mas será que ela serve para
você?
"A páleo
tem vários pontos positivos", diz Heather Mangieri, porta-voz da Academy
of Nutrition and Dietetics, dos Estados Unidos. O programa exclui alimentos
processados e açúcares refinados e dá ênfase a vegetais, frutas, castanhas e
carne de animais alimentados com capim. Até aí, tudo bem.
"Sabemos
que as dietas ricas em frutas e vegetais combatem as doenças cardíacas e alguns
tipos de câncer", diz Heather. A carne de animais alimentados com capim
tem proporção de gordura mais saudável que a de animais alimentados com grãos,
e toda carne fornece aminoácidos que aceleram a recuperação.
Poucos meses
após a adoção de uma dieta páleo, o ultracorredor americano Timothy Olson
estabeleceu um novo recorde na Western States, ultramaratona de 100 milhas [160
km]. "Minhas pernas ficam menos inchadas após corridas longas. E consigo
retomar um ritmo forte antes do que conseguia quando não seguia a dieta
páleo", declarou Olson.
Mas a versão
mais radical da páleo também elimina grãos e leguminosas (duas fontes
importantes de carboidratos), bem como laticínios, álcool, sal e óleos
vegetais. Protagonistas da páleo, como o pesquisador Loren Cordain, coautor do
livro The Paleo Diet for Athletes ("A dieta páleo para atletas", em
tradução livre), dizem que esses alimentos elevam os níveis de ácido do
organismo e liberam minerais dos ossos.
Cordain cita
substâncias existentes nesses alimentos (fitatos nos grãos integrais e lectinas
nos feijões) que inibem a absorção de nutrientes. Mas Heather discorda: "A
perda de nutrientes é mínima e não parece causar deficiências". Ela aponta
para as populações do Mediterrâneo, que desfrutam de longevidade e poucas
doenças crônicas com uma dieta rica em grãos e leguminosas.
A ênfase da
dieta em comer carne em grandes quantidades também é preocupante, segundo Matt
Fitzgerald, nutricionista esportivo certificado, treinador de corrida e autor
do livro Diet Cults ("Os cultos às dietas"). Um estudo de 2012 feito
pela Harvard School of Public Health (EUA) constatou que quanto mais carne
vermelha as pessoas consomem, maior a taxa de mortalidade. "Gostaria de
incentivar os corredores interessados na dieta páleo a comer mais peixe e
frango e menos carne vermelha — e o mínimo possível de carnes
processadas."
Embora a
dieta páleo ofereça benefícios potenciais à saúde, muitos especialistas
criticam o baixíssimo teor de carboidrato de sua versão mais radical. Mas,
segundo Joe Friel, treinador de resistência e coautor de The Paleo Diet for
Athletes, os carboidratos liberados na páleo, que incluem frutas e alguns
tubérculos, podem abastecer um atleta adequadamente antes da corrida.
Porém, ele
observa, "esses alimentos têm o índice glicêmico baixo demais para repor o
glicogênio, durante e após o exercício, tão rapidamente quanto a maioria dos atletas
gostaria". Timothy Olson, que venceu a prova Western States, precisou
inserir mais carboidratos durante as corridas para evitar a exaustão nas provas
de resistência. Ele tentou mel, tâmaras e frutas secas (que não são permitidas
na páleo) e, finalmente, descobriu que os géis energéticos funcionavam melhor
para ele.
Para a
reposição durante e depois dos treinos, Friel recomenda aos corredores tentar
carboidratos não páleo, como bebidas esportivas, pães, arroz e batatas — mas
evitar esses alimentos em outros momentos. A páleo requer boa dose de
disciplina. "Ela bate de frente com a vida no mundo real", diz
Heather Mangieri, alertando que as restrições da dieta, por vezes, podem levar
ao hábito de fazer jejum para em seguida comer sem freios. "Algumas pessoas
acabam consumindo em excesso os alimentos que haviam negado a si mesmas
antes."
Outros
corredores acabam adaptando o plano original. "Sigo a linha páleo que
acredita que, para pessoas sem problemas de saúde como diabetes, os
carboidratos têm seu papel. Então, incluí na dieta algumas fontes consagradas
como arroz, batata-doce e até a normal, além de frutas como morango, maçã e
uva-passa. Mas eu evito açúcar, trigo e outros cereais com glúten. Já corria
antes da páleo low carb, mas, depois dela, saí de 4h03 na maratona para
3h52", diz o professor universitário Adolfo Neto, de 42 anos.
Essa
reeducação pode ser o bem mais valioso oferecido pela dieta páleo. Eliminar
grãos, feijões e laticínios fará você se sentir melhor? Talvez sim, talvez não.
Mas, se aventurar-se na dieta for o impulso para você cortar açúcares
refinados, álcool em excesso e todo tipo de junk food, então é algo que vale a
pena considerar.
Fonte: http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/noticias/vale-a-pena-embarcar-na-dieta-paleolitica
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