Ethos discursivo

O conceito de ethos advém da Retórica de Aristóteles e foi reformulado por Maingueneau para a AD. Segundo Dominique Maingueneau (2008b, p. 17):

PERcursos Linguísticos , Vitória (ES) ,v. 3 ,n. 1 ,p. 82-98 , 2011 (edição especial)
 _ o ethos é uma noção discursiva, ele se constrói através do discurso, não é uma imagem‘ do locutor exterior a sua fala;
– o ethos é fundamentalmente um processo interativo de influência sobre o outro;
– é uma noção fundamentalmente híbrida (sócio-discursiva), um comportamento socialmente avaliado, que não pode ser apreendido fora de uma situação de comunicação precisa, integrada ela mesma numa determinada conjuntura sócio-histórica‖ (MAINGUENEAU, 2008b, p. 17).

A partir desse conceito, podemos depreender que a subjetividade manifesta no discurso é concebida como uma voz que não pode ser dissociada do corpo que enuncia. A noção de tom é apresentada como uma voz específica do texto oral e escrito. Este último também têm uma vocalidade que pode se manifestar em múltiplos tons, associados a um fiador, construído pelo destinatário a partir dos indicadores que a enunciação libera. Relacionada à noção de tom, a incorporação é conceituada como a mescla que ocorre entre uma formação discursiva e seu ethos através do procedimento enunciativo. Além disso, a incorporação evoca a imbricação do discurso e seu modo de enunciação (conceito que trata de uma maneira de dizer específica a um discurso). A voz é um dos planos constitutivos da discursividade e o modo de enunciação obedece às mesmas restrições semânticas do conteúdo do discurso; aliás, frequentemente ele se torna tema do discurso.
Em resumo, Maingueneau (2008b, p. 29) propõe:

“A problemática do ethos pede que não se reduza a interpretação dos enunciados a uma simples decodificação; alguma coisa da ordem da experiência sensível se põe na comunicação verbal. As ‗idéias‘ suscitam a adesão por meio de uma maneira de dizer que é também uma maneira de ser. Apanhado num ethos envolvente e invisível, o co-enunciador faz mais que decifrar conteúdos: ele participa do mundo configurado pela enunciação, ele acede a uma identidade de algum modo encarnada, permitindo ele próprio que um fiador encarne. O poder de persuasão de um discurso deve-se, em parte, ao fato de ele constranger o destinatário a se identificar com o movimento de um corpo, seja ele esquemático ou investido de valores historicamente especificados” (MAINGUENEAU, 2008b, p. 29).

Assim sendo, entendemos que o coenunciador não apenas decodifica enunciados, mas adere a uma identidade, pois ao incorporá-lo, o enunciador não projeta para ele um estereótipo qualquer. Ao contrário, ele joga com os estereótipos para que seja definido um ethos singular. Este só pode ser de fato apreendido com a leitura do texto, com uma entrada progressiva no universo por ele configurado.

FONTE: Carvalho, C. F. Interdiscurso, Cenas de Enunciação e Ethos Discursivo em Canções de Ataufo Alves, 2011, p. 85-87

Uma sugestão em homenagem ao artigo acima, veja a qualidade do som de Astlfo Alves no link a seguir:
https://www.youtube.com/watch?v=9tc4WW5baYk

Tuuudo de bom !!!!! 

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